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terça-feira, 18 de junho de 2013

De como destruir as instituições democráticas ou Já vi esse filme antes



As manifestações ocorridas nos últimos dias são a expressão legítima dos anseios do povo por melhores condições de vida. Embora tenham começado com o protesto contra o aumento das passagens de ônibus na cidade de São Paulo, contagiou o povo e trouxe à tona toda a insatisfação, a revolta mesmo contra a bancada de negócios, ou seria melhor dizer negociatas(?), em que se transformou a política brasileira.

O grande problema nessa história é certo tipo de discurso a que os gregos clássicos definiam como sendo a “arte de falar aquilo que toca na emoção do interlocutor” e, em grego, seu nome era demagogia (δημαγωγία). Todos os filósofos gregos advertiam o povo sobre o perigo de a democracia ser contaminada pela demagogia.

Mas em que consiste a demagogia? Segundo Aristóteles, em sua obra A Política, a demagogia era a corrupção da democracia, mediante a manipulação das paixões e dos sentimentos do eleitorado, ao utilizar-se o apelo a metas ilusórias e insustentáveis.

O próprio motor inicial do movimento, o passe livre, é uma falácia. Afinal, “não há jantar grátis”. Alguém tem que pagar por ele. E o pagamento pela passagem grátis seria efetuado com verba pública. Como o governo não produz, não gera riqueza, essa verba viria, inexoravelmente, daquilo que foi pago pelo contribuinte. Ou se aumentam os impostos, ou se retiram de outras destinações que, por consequência, seriam prejudicadas. De qualquer forma, o povo pagaria o aumento das passagens. Com uma agravante, não se teria mais o controle do real custo do transporte público.

Mas isso não era a meta desejada. Foi apenas o impulso inicial para despertar o povo de sua inércia e jogá-lo numa sucessão de reivindicações justas, perfeitas, porém, contaminadas. Contaminadas por uma pequena minoria a soldo daqueles que se interessam na criação do caos social para, em seguida, apresentar(em)-se como salvador(es) da Pátria, desde que investido(s) de poderes discricionários — Jânio Quadros já havia tentado isso mas, felizmente, deu com os burros n’água. É nessa altura que o povo vê destruídas as instituições democráticas. Garantias individuais constitucionais são suspensas, para o “bem” da coletividade. Diante do caos, eleições são adiadas sine die. A mídia passa a estar sob o “controle social”.

Já vimos esse filme antes, em preto e branco, já que a memória do povo apagou suas cores. E estamos a assistir a sinopse da “refilmagem” dessa história, desta vez, ao vivo e a cores. Urge que a sociedade acorde para o perigo que estamos enfrentando. Ou impedimos os baderneiros e agitadores de conseguirem seu intento, ou estamos fadados a vermo-nos aprisionados na destruição do estado de direito e das instituições democráticas.

“A política é o cuidado com o bem comum, a vigilância sobre os caminhos da sociedade como um todo, sem adesão parcialista à vontade de grupos ou classes”.
Aristóteles

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