Esse texto, embora longo, é necessário para a compreensão do pensamento esquerdista e da formação de professores no Brasil. Foi, inicialmente, publicado em 26 de maio de 2014 e editado em 10/09/2020, baseado na troca de mensagens entre dois estudantes do curso de História/Licenciatura Plena. Alerta: Esse texto não é recomendado para pessoas de geleia.
Torturadores,
Terroristas e alunos (futuros professores) de História
Recebi, ontem, uma mensagem pelo Facebook de uma ex-colega
de faculdade. Nós cursamos História, Licenciatura Plena, na mesma turma. Eu,
por razões óbvias, abandonei o curso no 3º período. Ela irá formar-se no final
deste ano. Vejam o teor da mensagem:
“Amigo,vc viu ? Mais um torturados (sic) confessa
as barbaridades que fez. Leia O globo de hoje. Será que este também vai
enfartar? Viu, como existiram " justificativas" para combater o
comunismo. Na verdade, eu ouvi cantar o galo e sei muito bem onde”.
De imediato busquei ler a reportagem no Globo online. A reportagem parece um
daqueles filmes de terror de baixo orçamento, em preto e branco. A mim, chamou
a atenção a declaração final do “torturador”: “Não tenho o menor peso na
consciência”. Eu me pergunto o que faz alguém, que não tem arrependimento
algum, confessar um crime, um pecado praticado. Mas isso é uma questão de foro
íntimo e só quem confessou poderia esclarecer a questão. De fato, não nos
interessa aqui.
Neste arrazoado, tentarei utilizar argumentos baseados,
principalmente, em informações de fontes da esquerda e no Mini-Manual do
Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella. A utilização de argumentos construídos
por integrantes da direita não teria o mesmo peso que as palavras de um dos
mais encarniçados inimigos do regime militar. Estes argumentos não podem ser
refutados sob pena de contradizer o discurso esquerdista.
Todos nós sabemos que a tortura existiu durante o regime
militar. Nenhum de nós pensa em justificar os atos do torturador. Mas vamos
olhar o problema da tortura de outro ponto de vista. A tortura como arma de
guerra. Nas palavras do Gen. Leônidas Pires Gonçalves, ex-ministro do Exército
no governo Sarney, “A guerra não tem nada de bonita. Só a vitória”. A guerra em
si já é algo desumano. Uma guerra intestina, em que compatriotas se digladiam é
algo ainda mais imoral. Apesar disso, ambos os lados utilizam as armas de que
dispõem para atingir o “inimigo” da forma mais eficiente possível.
É necessário, antes de mais nada, definir aqui os lados que participaram da
luta armada no Brasil na época do regime militar. Um deles era uma pequena
parte da esquerda nacional, principalmente aquela formada por dissidências do
PCdoB (este já uma dissidência do PCB), que adota a violência como forma de
ativismo político. Vejamos, então, uma das formas de atuação desses grupos, nas
palavras de Carlos Marighella:
“O terrorismo é uma ação, usualmente envolvendo a
colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual
é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.
O terrorismo requer que a guerrilha urbana tenha um
conhecimento teórico e prático de como fazer explosivos.
O ato do terrorismo, fora a facilidade aparente na qual
se pode realizar, não é diferente dos outros atos da guerrilha urbana e ações
na qual o triunfo depende do plano e da determinação da organização
revolucionária. É uma ação que a guerrilha urbana deve executar com muita
calma, decisão e sangue frio.
Ainda que o terrorismo geralmente envolva uma explosão,
há casos no qual pode ser realizado execução ou incêndio sistemático de
instalações, propriedades e depósitos norte-americanos, fazendas, etc. É
essencial assinalar a importância dos incêndios e da construção de bombas
incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário.
Outra coisa importante é o material que a guerrilha urbana pode persuadir o
povo a expropriar em momentos de fome e escassez, resultados dos grandes
interesses comerciais.
O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode
abandonar.”
Mini-Manual do guerrilheiro urbano – Carlos Marighella
Disponível em: http://goo.gl/5b5EJL
O outro lado era formado não pelas Forças Armadas, mas
pela Comunidade de Informações*, composta por cerca de 1% do contingente das
FFAA e por pequenas parcelas das polícias civis, militares e federal. Os meios
utilizados foram, basicamente, a Oban – Operação Bandeirantes, os Centros de
Operações de Defesa Interna – CODI e seus Destacamentos de Operações e de
Informações – DOI.
A principal característica da luta armada era a de ser uma Guerra Assimétrica.
Uma luta desigual, na qual as forças institucionais, organizadas, lutavam
contra um inimigo sem uniforme, oculto, que sempre atacava de surpresa em
locais improváveis.
“A razão para a existência do guerrilheiro urbano, a
condição básica para qual atua e sobrevive, é o de atirar”.
“Tiro e pontaria são água e ar de um guerrilheiro urbano.
Sua perfeição na arte de atirar o fazem um tipo especial de guerrilheiro
urbano - ou seja, um franco-atirador, uma categoria de combatente solitário
indispensável em ações isoladas”.
Mini-Manual do guerrilheiro urbano – Carlos Marighella
Penso que já esteja configurada a personalidade do guerrilheiro urbano que
produziu a luta armada. Vamos, agora, definir outro aspecto do problema: O ovo
ou a galinha?
Se formos ler a Lei 6.683, de 28 de agosto de 1979,
popularmente chamada de Lei da Anistia, podemos observar em seu Art. 1º: “É
concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro
de 1961 e 15 de agosto de 1979...” A primeira pergunta é o porquê
da abrangência da anistia a partir de setembro de 1961, dois anos e meio antes
do “golpe” militar. Simplesmente porque a luta armada teve início em fins de
1961. Assim, a "repressão", tão execrada pela esquerda, não passou de
um processo de legítima defesa da Nação.
A essa época, Francisco Julião e suas Ligas Camponesas já trabalhavam a ideia
de uma luta armada, radicalizando o discurso com o slogan "Reforma agrária
na lei ou na marra, com flores ou com sangue" (https://bit.ly/3m80Ytl).
Em 1961, Julião vai a Cuba para tratar do apoio do regime de Castro à luta
armada no Brasil, incluindo a tratativa do envio de armas para as Ligas e o
treinamento de militantes. Castro, cujo regime estava compromissado com o “foquismo”,
autoriza a formação de pessoal das Ligas em cursos de treinamento militar (https://bit.ly/3bKb1Qm).
Em O apoio de Cuba à luta armada no Brasil, da
doutora em História Denise Rollemberg (RJ) (https://amzn.to/3hoKsBO), a autora
afirma que:
"Há informação de que Clodomir Morais e mais 11
membros das Ligas, alguns ex-membros do PCB, teriam feito o «curso de
guerrilhas, em Cuba», entre 28 de julho e 20 de agosto de 1961, com mais 40
latino-americanos, numa viagem a pretexto de participar das comemorações do 26
de julho: «O curso foi o segundo desta natureza patrocinado pelos cubanos,
sendo que o primeiro foi dado em maio de 1961, também em Cuba. A instrução
constava de exercícios diários de tiro ao alvo, manobras de guerrilhas
simuladas nas montanhas dos Organos, e manejo e identificação de armas e
doutrinação ideológica. Os estagiários eram instruídos no desmontar, manejar e
a manutenção de armas de fogo norte-americanas(...). Foram ensinados como fazer
o 'coquetel Molotov' e a bomba incendiária 'M-26'".
Já as ações das organizações terroristas que pululavam no
Brasil a partir de 1964 baseavam-se no Mini-Manual de Marighella e tomaram a
forma de guerra assimétrica (guerrilha e terrorismo). Ora, não se pode
perseguir um inimigo que não se vê. Não seria factível a utilização das Forças
Armadas nesse tipo de combate. Nesse ponto entra em ação a Comunidade de
Informações.
Nessa guerra assimétrica a informação é essencial. E
ninguém, em seu juízo perfeito, vai esperar que indivíduos capazes de
assassinar a coronhadas de fuzil, um tenente da Força Pública de São Paulo,
desarmado e tomado como refém, cortar seus testículos e enfiá-los em sua boca –
caso do Ten. Alberto Mendes Junior, morto por Carlos Lamarca e seus comparsas –
sejam tratados com nobreza e cortesia por parte de quem necessita de
informações no menor tempo possível, a fim de evitar outros possíveis atos
terroristas. Em meio a atos desumanos, a tortura emerge como arma de guerra,
imoral, hedionda, mas eficiente.
O primeiro a “confessar” os crimes cometidos durante o
regime, o Cel. Paulo Malhães, foi morto (foi “infartado”) por três homens que
invadiram seu sítio, simulando latrocínio. A pergunta de minha ex-colega faz
sentido. Será que o Cel. PM Riscala Corbaje também será “infartado”? Ora,
depois de terem sequestrado, torturado, empalado e “infartado” Celso Daniel,
não me espantará que Corbaje tenha o mesmo fim. Afinal, Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT), afirma no Twitter "O único militar torturador que contou o que
fez e o que sabia foi assassinado. Queima de arquivo evidente".
Quanto à afirmação final sobre “saber muito bem onde canta o galo”, só posso
concluir que, de fato, eu estava correto em abandonar o curso de História
daquela faculdade (ou de qualquer outra, até prova em contrário). É
estupefaciente o nível de nossos futuros professores de História. Conhecimento
e lógica passam longe deles. Estão sendo formados sob o signo da desonestidade
intelectual e da histeria de seus professores esquerdistas.
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* A Comunidade de Informações foi criada no Brasil pelo Presidente Washington
Luís Pereira de Souza, em 1927. Desde então, seu nome e sua estrutura vêm sendo
alterados de acordo com a política governamental, preservando sua autonomia e
sua política de estado. Hoje, a Comunidade de Informações, reunida no SISBIN -
Sistema Brasileiro de Informações, é coordenada pela ABIN.
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