A IMPERMEABILIDADE METAFÍSICA DO IDIOTA
Por Sidney Silveira*
O genuíno idiota só consegue ter certezas coletivas.
As suas verdades são de caráter numérico, razão pela qual sente-se psicologicamente confortável apenas no rebanho a que adere.
O idiota sempre eleva a opinião da maioria ao plano das verdades
intocáveis, daí ser pessoa incapaz de real diálogo e grandemente
intolerante para com as objeções ou o convívio com os desiguais. Ele
conduz qualquer discussão a uma infernal mistura de premissas e assuntos
diversos, que reunidos compõem uma massa amorfa e avassaladora à qual é
impossível responder detidamente.
O idiota é o homem-massa que idolatra a si mesmo ao querer pasteurizar tudo e todos à sua imagem e semelhança.
Qualquer certeza — por fundamentada que seja — proclamada por alguém de
fora de seu grupo é tida pelo idiota como pretensão desmedida, a ser
escarnecida de todas as formas.
O espírito de grupo do idiota é
a prova material de sua incapacidade de elevar-se ao nível das certezas
teoréticas, fruto de reflexões continuadas e paciente estudo. Seu ódio à
excelência costuma esconder-se por trás das bandeiras "democráticas"
com que tem a sensação vertiginosa do heroísmo e da superioridade moral e
intelectual sobre os adversários.
Opinar contrariamente às
evidências é prática comum do idiota, razão pela qual o melhor que uma
pessoa de bom senso deve fazer é não prosseguir jamais na discussão com
ele.
Seria idiotice imperdoável.
O idiota é a prova cabal do mistério que há entre o céu e a terra.
*Sidney Silveira é jornalista, professor, filósofo e convidado do blog Távola Redonda.
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