As manifestações ocorridas nos últimos dias são a expressão
legítima dos anseios do povo por melhores condições de vida. Embora tenham
começado com o protesto contra o aumento das passagens de ônibus na cidade de
São Paulo, contagiou o povo e trouxe à tona toda a insatisfação, a revolta
mesmo contra a bancada de negócios, ou seria melhor dizer negociatas(?), em que
se transformou a política brasileira.
O grande problema nessa história é certo tipo de discurso a
que os gregos clássicos definiam como sendo a “arte de falar aquilo que toca na
emoção do interlocutor” e, em grego, seu nome era demagogia (δημαγωγία).
Todos os filósofos gregos advertiam o povo sobre o perigo de a democracia ser
contaminada pela demagogia.
Mas em que consiste a demagogia?
Segundo Aristóteles, em sua obra A Política, a demagogia era a corrupção da
democracia, mediante a manipulação das paixões e dos sentimentos do eleitorado,
ao utilizar-se o apelo a metas ilusórias e insustentáveis.
O próprio motor inicial do
movimento, o passe livre, é uma falácia. Afinal, “não há jantar grátis”. Alguém
tem que pagar por ele. E o pagamento pela passagem grátis seria efetuado com
verba pública. Como o governo não produz, não gera riqueza, essa verba viria,
inexoravelmente, daquilo que foi pago pelo contribuinte. Ou se aumentam os
impostos, ou se retiram de outras destinações que, por consequência, seriam
prejudicadas. De qualquer forma, o povo pagaria o aumento das passagens. Com
uma agravante, não se teria mais o controle do real custo do transporte
público.
Mas isso não era a meta desejada.
Foi apenas o impulso inicial para despertar o povo de sua inércia e jogá-lo
numa sucessão de reivindicações justas, perfeitas, porém, contaminadas.
Contaminadas por uma pequena minoria a soldo daqueles que se interessam na
criação do caos social para, em seguida, apresentar(em)-se como salvador(es) da
Pátria, desde que investido(s) de poderes discricionários — Jânio Quadros já
havia tentado isso mas, felizmente, deu com os burros n’água. É nessa altura
que o povo vê destruídas as instituições democráticas. Garantias individuais
constitucionais são suspensas, para o “bem” da coletividade. Diante do caos,
eleições são adiadas sine die. A
mídia passa a estar sob o “controle social”.
Já vimos esse filme antes, em preto
e branco, já que a memória do povo apagou suas cores. E estamos a assistir a sinopse
da “refilmagem” dessa história, desta vez, ao vivo e a cores. Urge que a
sociedade acorde para o perigo que estamos enfrentando. Ou impedimos os
baderneiros e agitadores de conseguirem seu intento, ou estamos fadados a vermo-nos
aprisionados na destruição do estado de direito e das instituições
democráticas.
“A política é o cuidado com o bem comum, a vigilância sobre os
caminhos da sociedade como um todo, sem adesão parcialista à vontade de grupos
ou classes”.
Aristóteles
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