Eu
havia acabado de acordar. Ao levantar-me da cama deparei-me com Dara, uma
cadela Rottweiler de oito anos, sentada junto à porta de meu quarto, olhando-me
fixamente. Assim que dei os primeiros passos em sua direção, ela se levantou e
veio até mim, colocando sua cabeça entre minhas pernas. Parte de um ritual
diário de “bom dia” que ela executa com um amor quase religioso. Cocei sua
cabeça e sua nuca e pronunciei um alegre “Bom dia, Dara”. Seu coto de rabo
balançou alegremente.
Foi
quanto eu recordei de uma cena realmente assustadora. Anos atrás, antes de Dara
haver nascido, eu estava passeando com meus outros cães quando, ao passar
próximo a uma casa em que morava um criador de Bulldogs americanos, vi um
sujeito segurando um cão pelo enforcador. O animal usava focinheira e urrava
feito louco, pleno de ódio pelos bulldogs na grade da casa. Chegava a vomitar
de tanta força que fazia tentando romper o enforcador, na tentativa de atacar
os “inimigos”. E eu pensei com meus botões por que aquele sujeito maltratava
seu cão daquela maneira. Um animal tratado assim não pode ser feliz.
Cerca
de dois anos depois, cruzei com o mesmo indivíduo que levava pela guia o mesmo
cão, com a mesma focinheira e percebi o equívoco que eu havia cometido quando
notei que seu cão não se importava com a presença do meu. Aquele homem havia
adotado o animal e realizado um trabalho magnífico de reeducação. O cão parecia
calmo e contente ao acompanhar seu dono. Na verdade, aparentava estar feliz ao
lado do homem.
Hoje,
eu me pergunto o que leva alguém a nutrir por seu semelhante tamanho ódio que o
faça capaz de partir para a violência, de cometer as maiores atrocidades, em
nome de um “vestido de ideias” (expressão utilizada por Karl Marx como conceito
de ideologia).
As
últimas imagens que chegam da Venezuela falam por si mesmas. Este ódio só pode
ser fruto da psicopatia, aquela deformação da psique que retira da consciência
da pessoa todo e qualquer limite da moralidade, da humanidade. Eles não perdem
o discernimento do bem e do mal, apenas não possuem limites. Por isso são
chamados psicopatas.